Na
data de 28 de fevereiro de 2013, na aula de Conteúdos e Metodologias para a
Educação Infantil foi trabalhado o livro Histórias das Crianças no Brasil. Livro este que trata das particularidades das crianças
comuns que fazem parte da História do Brasil desde antes do descobrimento. Coordenado por Mary Del Priory, professora e pesquisadora da USP, foi publicado em 1999, e agraciado com
o Prêmio Casa Grande &
Senzala da Fundação Joaquim Nabuco no ano de 2000.
O livro tem como base a chamada Nova História,
tendência iniciada na década de 1980 por alguns historiadores que dirigiram
suas pesquisas para dar voz aos silenciados: crianças, mulheres e
vitimas de preconceito.
A autora cita ainda Gilberto Freire,
que em seu livro Em tempo morto - Outros tempos, relata que desejou escrever um livro
chamado A História do Menino
Brasileiro, no qual contaria a passagem da infância à vida adulta sem
ter adolescência.
Na apresentação se tem a clara impressão do que Mary Del Priore
vai
relatar nos 15 capítulos que sucedem a história da criança em suas diversas
fases. Uma criança que durante muito tempo foi negligenciada, incerta de sua
sobrevivência, pela falta de cuidados e tecnologia e pelos altos índices de
natalidade. Fato que pode ser comprovado na citação de Gilberto Freire em sua
obra Casa Grande e Senzala: “A verdade
é que perder um filho pequeno nunca foi para a família patriarcal à mesma dor
profunda que para uma família de hoje. O anjo ia para o céu. Para junto de
Nosso Senhor, insaciável em cercar-se de anjos”.
Apesar dos grandes esforços da lei de compensar um passado
histórico da infância, no qual a criança era tida como “bichinho de animação”,
ou “adulto em miniatura”, sendo deste modo, um ser em desvantagem em comparação
com o adulto, pode-se perceber que ainda carrega-se e vê-se os resquícios
trevosos de uma Idade Média não muito distante das cidades modernas e burguesas
atuais.
O que se assististe hoje são as mais variadas atrocidades feitas
contra as crianças, ou ainda a maneira velada com que elas são tratadas nas
escolas, e em outros contextos de suas vidas, ou ainda abandonadas ou abusadas,
precisando adquirir a autonomia e a capacidade do adulto. Neste embate surge à
sociedade civil, que com algumas de suas entidades responsáveis procura
elaborar leis, estatutos, para garantir de alguma forma a sobrevivência humana
desses seres de infância marcada pela violência, pelo descaso, pelo abuso, pela
falta de direitos, incluindo uma educação de qualidade e uma vida digna.
A configuração da infância no decorrer dos tempos tem se
reconstruído nos mais diversos moldes, convivendo com a violência, o trabalho
infantil, os abrigos, o abuso, as múltiplas atividades diárias, como: natação,
inglês, balé, futebol, etc., suscitando-nos questionamentos, tais como: em qual
momento sobra espaço para ser criança? Como se pode garantir o que é previsto nas
leis e nos estatutos? Será que a construção destas leis vai de encontro às
realidades múltiplas da criança brasileira ou os profissionais que as constroem
se embasam em modelos românticos e idealizados?
É necessário repensar cada passo, cada ato, cada lei, fazer um exercício
reflexivo sobre as múltiplas realidades do Brasil com suas infâncias ricas,
carentes, sedentas de fome, de cuidado ou de um olhar terno. E nos perguntar o
quão preparados nós estamos para lidar com essa infância carente, judiada,
manipulada?
Será que não seria o caso de propormos, como futuros profissionais
e atuantes na área de educação, um estudo, uma discussão sobre o ECA, ou mesmo
sobre os direitos humanos da criança, sobretudo, ao longo de nossa formação?
É preciso parar e buscar compreender os direitos, os deveres, os
possíveis caminhos que poderemos empreender no atendimento a criança, ao
adolescente, que deixa de ser criança, e que fica no lugar da passagem entre o
mundo infantil e o adulto.
Outro fato relevante a ser abordado é a massificação midiática da
criança, afinal como salienta Campos apud Ventura, 2003: Em nossa sociedade
todas as camadas sociais têm no televisor sua companhia mais constante. Os
meios de comunicação, especialmente a TV, são modelos com os quais crianças se
identificam, e quanto maior é o isolamento da criança maior é o poder de
influência que a mídia exerce sobre a mesma.
Visto tal afirmação pode-se salientar que as crianças são
corrompidas desde cedo, para tornarem-se pessoas consumistas e sem valores, o
perfil ideal que a mídia deseja, pois passam mais tempo com a vida vinculada à
mídia do que sendo crianças. A mídia as atrai fortemente, já que a combinação
de informações visuais como a televisão, o rádio, os videogames são muito mais
atraentes do que outros meios de comunicação de massa, tais como os livros, que
exigem a leitura, a interpretação e a compreensão e não são como um computador,
por exemplo, que fala a mesma língua, que traz novidades. O resultado disso é
um grande impacto na sociedade atual. De forma a distorcer, manipular valores
morais, religiosos e culturais, incentivar a obesidade infantil, a erotização
precoce, consumo de drogas e excesso de agressividade.
Atualmente as crianças no mundo inteiro, estão
privadas dos espaços que costumavam ser seus: as ruas, as calçadas, as praças.
Privadas desses espaços, elas se refugiam na frente do televisor, do computador,
dos jogos e ficam por horas exposta ao modismo, a violência, as guerras e ao
terror, um mundo de longe seu.
A falta do convívio familiar, de tempo faz com que as crianças
tornem-se alienadas pelo consumismo e pelos efeitos negativos deixados pela
mídia. Elas são dependentes sim e cabe aos pais, aos educadores despertar o seu
senso crítico as para defendê-las dos apelos advindos da mídia, tornando-as
cidadãos conscientes, seletivos e reflexivos.
Frente a tal questão emerge a criança ditadora que escolhe o
colégio no qual quer estudar, a marca da roupa que deseja vestir, o que assistir
a hora de dormir ou de voltar para casa. Portanto, quando pensamos na educação
de uma criança e na construção da sua personalidade, é fundamental pensarmos na
construção de limites que possibilite à criança o exercício da autonomia para
se expressar assim como a sensibilidade e respeito para com o outro e
predisposições para aceitar diferentes opiniões e sentimentos.
Pode-se pensar na construção de limites que permitam o desenvolvimento
da alteridade na convivência coletiva e no acolhimento das diferentes
singularidades. Esta noção de limites está relacionada, com uma certa
disciplina que é importante criar para que o novo ser se desenvolva com
harmonia mas também com a noção de que o mundo não gira à volta dele e que há
regras e princípios que são fundamentais respeitar.
Se concebermos a Educação como um espaço de socialização e de
relações interpessoais será possível lançar bases para o exercício da
cidadania.
Assim, permitir à criança responsabilizar-se pela construção de
formas de convivência com seus colegas é concebê-la como sujeito que pensa e
que é ela própria a construtora da sua personalidade, capaz de conviver com os
outros e de ser responsável, também, pelo bem dos outros. Isto só será possível
se os adultos que convivem, diariamente, com a criança a ajudarem a perceber
que a sociedade tem regras e que sem elas não se pode viver de uma forma
saudável.
Não é tarefa fácil ser criança, agir como adulto, ter funções de
gente grande, afinal num passado, não tão remoto assim, o ser criança era, de
uma determinada maneira, bem mais simples. Brincar era uma atividade
invariavelmente praticada na rua. Estudar, basicamente na escola do bairro. E
comer, ato trivial e cotidiano, o almoço e o jantar preparados pela mãe, avó ou
outros familiares. Só para fechar o rol de atividades mais ordinárias do dia a
dia, assistir televisão era apertar o botão e usufruir da limitada programação
ao lado da família.
Eis que tudo mudou, e não foram poucas as mudanças. A acelerada
urbanização trouxe consigo dois fenômenos gêmeos: a redução dos espaços e a
verticalização. Como consequência, a rua deixou de ser um local para brincar e
passou a exercer o papel de vilã. Agora, rua é sinônimo de perigo! Azar das
crianças que tiveram reduzidos os seus espaços tradicionais.
O correr livre e solto praticamente deixou de existir. Brincar em
casa virou regra, ao invés de exceção. E, o mundo virtual acabou por ocupar
esse vazio. Agora não é mais a criança que corre, joga bola e se exercita com
outras brincadeiras ao lado dos amigos: quem faz isso é o vídeo game. Os
relacionamentos se desenvolvem nas redes sociais. Resultado: crianças ditadoras,
isoladas, cheias de atividades, ausentes do pensar e do interagir, carentes e
solitárias do reconhecimento do seu próprio eu.
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