sábado, 2 de março de 2013

Histórias das Crianças no Brasil – 28 de fevereiro de 2013


Na data de 28 de fevereiro de 2013, na aula de Conteúdos e Metodologias para a Educação Infantil foi trabalhado o livro Histórias das Crianças no Brasil. Livro este que trata das particularidades das crianças comuns que fazem parte da História do Brasil desde antes do descobrimento. Coordenado por Mary Del Priory, professora e pesquisadora da USP, foi publicado em 1999, e agraciado com o Prêmio Casa Grande & Senzala da Fundação Joaquim Nabuco no ano de 2000.
O livro tem como base a chamada Nova História, tendência iniciada na década de 1980 por alguns historiadores que dirigiram suas pesquisas para dar voz aos silenciados: crianças, mulheres e vitimas de preconceito.
A autora cita ainda Gilberto Freire, que em seu livro Em tempo morto - Outros tempos, relata que desejou escrever um livro chamado A História do Menino Brasileiro, no qual contaria a passagem da infância à vida adulta sem ter adolescência.  
Na apresentação se tem a clara impressão do que Mary Del Priore vai relatar nos 15 capítulos que sucedem a história da criança em suas diversas fases. Uma criança que durante muito tempo foi negligenciada, incerta de sua sobrevivência, pela falta de cuidados e tecnologia e pelos altos índices de natalidade. Fato que pode ser comprovado na citação de Gilberto Freire em sua obra Casa Grande e Senzala: “A verdade é que perder um filho pequeno nunca foi para a família patriarcal à mesma dor profunda que para uma família de hoje. O anjo ia para o céu. Para junto de Nosso Senhor, insaciável em cercar-se de anjos”.
Apesar dos grandes esforços da lei de compensar um passado histórico da infância, no qual a criança era tida como “bichinho de animação”, ou “adulto em miniatura”, sendo deste modo, um ser em desvantagem em comparação com o adulto, pode-se perceber que ainda carrega-se e vê-se os resquícios trevosos de uma Idade Média não muito distante das cidades modernas e burguesas atuais.
O que se assististe hoje são as mais variadas atrocidades feitas contra as crianças, ou ainda a maneira velada com que elas são tratadas nas escolas, e em outros contextos de suas vidas, ou ainda abandonadas ou abusadas, precisando adquirir a autonomia e a capacidade do adulto. Neste embate surge à sociedade civil, que com algumas de suas entidades responsáveis procura elaborar leis, estatutos, para garantir de alguma forma a sobrevivência humana desses seres de infância marcada pela violência, pelo descaso, pelo abuso, pela falta de direitos, incluindo uma educação de qualidade e uma vida digna.
A configuração da infância no decorrer dos tempos tem se reconstruído nos mais diversos moldes, convivendo com a violência, o trabalho infantil, os abrigos, o abuso, as múltiplas atividades diárias, como: natação, inglês, balé, futebol, etc., suscitando-nos questionamentos, tais como: em qual momento sobra espaço para ser criança? Como se pode garantir o que é previsto nas leis e nos estatutos? Será que a construção destas leis vai de encontro às realidades múltiplas da criança brasileira ou os profissionais que as constroem se embasam em modelos românticos e idealizados?
É necessário repensar cada passo, cada ato, cada lei, fazer um exercício reflexivo sobre as múltiplas realidades do Brasil com suas infâncias ricas, carentes, sedentas de fome, de cuidado ou de um olhar terno. E nos perguntar o quão preparados nós estamos para lidar com essa infância carente, judiada, manipulada?
Será que não seria o caso de propormos, como futuros profissionais e atuantes na área de educação, um estudo, uma discussão sobre o ECA, ou mesmo sobre os direitos humanos da criança, sobretudo, ao longo de nossa formação?
É preciso parar e buscar compreender os direitos, os deveres, os possíveis caminhos que poderemos empreender no atendimento a criança, ao adolescente, que deixa de ser criança, e que fica no lugar da passagem entre o mundo infantil e o adulto.
Outro fato relevante a ser abordado é a massificação midiática da criança, afinal como salienta Campos apud Ventura, 2003: Em nossa sociedade todas as camadas sociais têm no televisor sua companhia mais constante. Os meios de comunicação, especialmente a TV, são modelos com os quais crianças se identificam, e quanto maior é o isolamento da criança maior é o poder de influência que a mídia exerce sobre a mesma.
Visto tal afirmação pode-se salientar que as crianças são corrompidas desde cedo, para tornarem-se pessoas consumistas e sem valores, o perfil ideal que a mídia deseja, pois passam mais tempo com a vida vinculada à mídia do que sendo crianças. A mídia as atrai fortemente, já que a combinação de informações visuais como a televisão, o rádio, os videogames são muito mais atraentes do que outros meios de comunicação de massa, tais como os livros, que exigem a leitura, a interpretação e a compreensão e não são como um computador, por exemplo, que fala a mesma língua, que traz novidades. O resultado disso é um grande impacto na sociedade atual. De forma a distorcer, manipular valores morais, religiosos e culturais, incentivar a obesidade infantil, a erotização precoce, consumo de drogas e excesso de agressividade.
    Atualmente as crianças no mundo inteiro, estão privadas dos espaços que costumavam ser seus: as ruas, as calçadas, as praças. Privadas desses espaços, elas se refugiam na frente do televisor, do computador, dos jogos e ficam por horas exposta ao modismo, a violência, as guerras e ao terror, um mundo de longe seu.
A falta do convívio familiar, de tempo faz com que as crianças tornem-se alienadas pelo consumismo e pelos efeitos negativos deixados pela mídia. Elas são dependentes sim e cabe aos pais, aos educadores despertar o seu senso crítico as para defendê-las dos apelos advindos da mídia, tornando-as cidadãos conscientes, seletivos e reflexivos.
Frente a tal questão emerge a criança ditadora que escolhe o colégio no qual quer estudar, a marca da roupa que deseja vestir, o que assistir a hora de dormir ou de voltar para casa. Portanto, quando pensamos na educação de uma criança e na construção da sua personalidade, é fundamental pensarmos na construção de limites que possibilite à criança o exercício da autonomia para se expressar assim como a sensibilidade e respeito para com o outro e predisposições para aceitar diferentes opiniões e sentimentos.
Pode-se pensar na construção de limites que permitam o desenvolvimento da alteridade na convivência coletiva e no acolhimento das diferentes singularidades. Esta noção de limites está relacionada, com uma certa disciplina que é importante criar para que o novo ser se desenvolva com harmonia mas também com a noção de que o mundo não gira à volta dele e que há regras e princípios que são fundamentais respeitar.
Se concebermos a Educação como um espaço de socialização e de relações interpessoais será possível lançar bases para o exercício da cidadania.
Assim, permitir à criança responsabilizar-se pela construção de formas de convivência com seus colegas é concebê-la como sujeito que pensa e que é ela própria a construtora da sua personalidade, capaz de conviver com os outros e de ser responsável, também, pelo bem dos outros. Isto só será possível se os adultos que convivem, diariamente, com a criança a ajudarem a perceber que a sociedade tem regras e que sem elas não se pode viver de uma forma saudável.
Não é tarefa fácil ser criança, agir como adulto, ter funções de gente grande, afinal num passado, não tão remoto assim, o ser criança era, de uma determinada maneira, bem mais simples. Brincar era uma atividade invariavelmente praticada na rua. Estudar, basicamente na escola do bairro. E comer, ato trivial e cotidiano, o almoço e o jantar preparados pela mãe, avó ou outros familiares. Só para fechar o rol de atividades mais ordinárias do dia a dia, assistir televisão era apertar o botão e usufruir da limitada programação ao lado da família.
Eis que tudo mudou, e não foram poucas as mudanças. A acelerada urbanização trouxe consigo dois fenômenos gêmeos: a redução dos espaços e a verticalização. Como consequência, a rua deixou de ser um local para brincar e passou a exercer o papel de vilã. Agora, rua é sinônimo de perigo! Azar das crianças que tiveram reduzidos os seus espaços tradicionais.
O correr livre e solto praticamente deixou de existir. Brincar em casa virou regra, ao invés de exceção. E, o mundo virtual acabou por ocupar esse vazio. Agora não é mais a criança que corre, joga bola e se exercita com outras brincadeiras ao lado dos amigos: quem faz isso é o vídeo game. Os relacionamentos se desenvolvem nas redes sociais. Resultado: crianças ditadoras, isoladas, cheias de atividades, ausentes do pensar e do interagir, carentes e solitárias do reconhecimento do seu próprio eu.












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