DATA:
21/02/2013
TEMA:
REFLEXÕES SOBRE QUE PROFESSORES
PRECISAMOS PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
“Um
professor pode levá-lo até a porta, mas abri-la é com você."
Provérbio
Chinês
A aula de Conteúdos e Metodologia para a
Educação Infantil na data de 21 de fevereiro de 2013, na Faculdade Bagozzi
trouxe reflexões acerca do processo
histórico da educação
que diz
respeito à imagem social das crianças e a
construção da infância bem como o papel das instituições na valorização desse conceito.
A educação
infantil possui especificidades que a caracteriza e, portanto, a diferencia do ensino fundamental, por esse
motivo interessa-nos compreender como professoras de educação infantil
constroem algumas categorias centrais em sua profissão. Mediante
a reflexão do texto De que professores precisamos para a Educação Infantil? –
Uma pergunta, várias respostas; escrito por Sonia Kramer, buscou-se adentrar no universo dos significados
elaborados pela autora
e desse modo buscar ampliar a compreensão sobre a educação infantil, sob um olhar singular que referencia uma cultura coletiva, de uma
categoria profissional, das profissionais que atuam na educação infantil.
Entende-se que é preciso avançar na compreensão tanto da
especificidade das instituições de educação infantil, quanto da profissão de
professor de educação infantil. A pertinência de tal
reflexão é oferecer importantes
contribuições para a o âmbito da formação de professores.
A educação
infantil tem papel social importante no desenvolvimento humano e social.
Portanto, pode-se afirmar que as crianças são seres sociais, têm uma história,
pertencem a uma classe social, estabelecem relações segundo seu contexto de
origem, têm uma linguagem, ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de
acordo com os padrões do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse
contexto. Elas são pessoas, enraizadas num todo social que as envolve e que
nelas imprime padrões de autoridade, linguagem, costumes. Essa visão de quem
são as crianças - cidadãos de pouca idade, sujeitos sociais e históricos,
criadores de cultura - é condição para que se atue no sentido de favorecer seu
crescimento e constituição, buscando alternativas para a educação infantil que
reconheça o saber das crianças e ofereça atividades para o crescimento social e
individual das mesmas.
Reconhecer na
infância sua especificidade, sua capacidade de imaginar, fantasiar e criar
exige que muitas medidas sejam tomadas. Entender que as crianças têm um olhar
crítico que vira pelo avesso a ordem das coisas, que subverte o sentido da
história, requer que se conheçam as crianças, o que fazem, do que brincam como
inventam, do que falam de maneira tal que as mesmas desempenhem seu papel de
criadoras de cultura.
Entretanto, muitos
são os desafios das políticas sociais para a infância. Questões relativas à
situação política e econômica e à pobreza, questões urbanas e sociais,
problemas educacionais específicos assumem proporções graves e exigem respostas
firmes e rápidas, nunca fáceis. Muitas são também as possibilidades de
enfrentar a questão. Hoje, vive-se o paradoxo de ter um conhecimento teórico
avançado sobre a infância, enquanto assiste-se com horror a incapacidade da atual
geração de profissionais de lidar com as populações infantis e juvenis.
Diante de tal
perspectiva o envolvimento do professor de educação infantil com o trabalho é
questão não só de corpo, mas também de alma, de pesquisa e de entrega absoluta
ao universo infantil.
A Educação
Infantil foi, durante muito tempo, considerada uma ação exclusiva da família. Nem
sempre a criança foi vista enquanto um ser em desenvolvimento, com interesses e
necessidades próprias e, apesar das primeiras ideias sobre a educação da
criança terem surgido com Platão, na Grécia do século V a. C., centenas de anos
se passaram, antes que a primeira escola para crianças fosse criada.
Philippe
Ariés, historiador francês, a partir de seus estudos relata a transformação dos
sentimentos de infância. Em seu livro “História Social da Criança e da
Família”, mostra como a criança era percebida na sociedade tradicional.
De acordo com
Ariés, as crianças eram vistas, nos séculos XIV, XV e XVI como um adulto em
miniatura. Desta forma, era comum que elas participassem dos mesmos eventos e
realizassem as mesmas tarefas que eram atribuídas aos adultos.
As crianças
desse período eram vistas como a imagem e semelhança dos adultos, e estes por
sua vez se mantiam distante desse universo mágico denominado infância, não
compreendendo que é justamente nessa fase que se forma a personalidade, que as
reflexões ocorrem e que limites podem e devem ser impostos.
À medida que
mudanças sociais e políticas foram acontecendo, tanto no mundo quanto no
Brasil, passou-se a reconhecer a importância do atendimento à criança pequena.
Tanto na sociedade quanto no setor público crescia o interesse pela causa da criança,
em especial da criança pobre, abandonada ou que cometia algum delito.
O
atendimento, no início, apoiava-se numa visão assistencialista, compensatória e
eram esses pressupostos que fundamentavam também as práticas educativas
vivenciadas no interior das instituições infantis. Estas, ao longo da história
da educação da criança pequena, foram assumindo funções, com bases em
diferentes princípios teóricos, de acordo com o contexto social e político e os
adultos, que lidavam com as crianças nesses espaços, não possuíam nenhuma
preparação. No campo das políticas de atendimento às crianças, a história no Brasil
é marcada por avanços e retrocessos, muito discurso e poucas ações concretas.
Entretanto, a
partir da década de 80, os discursos sobre a infância e o atendimento às
crianças ganharam um novo enfoque, principalmente com uma participação maior da
sociedade, por meio das associações, pastorais e instituições internacionais.
Não quer
dizer que nesse período da história não havia afeto, somente as crianças eram
desprezadas se não servissem para o trabalho, suas vontades eram ignoradas, bem
como seus direitos de brincar e ser criança, na bem da verdade eram
consideradas seres irracionais.
Com o avanço
das tecnologias, ascensão política a criança passa a ser o centro de interesse
e preocupação e seus direitos são reconhecidos e assegurados. A educação passa
a ter foco social, porém as crianças ainda não possuíam o direito essencial e
elementar de serem crianças.
O
reconhecimento da Educação Infantil enquanto um direito da criança e da família
e um dever do Estado foi concretizado com a Constituição de 1988, pelo artigo
208, inciso IV:
“Art. 208 – O dever do Estado com a educação
será efetivado mediante a garantia de:
IV – atendimento em creche e pré-escola às
crianças de zero a
seis anos de idade;”.
Muito embora este
preceito constitucional, que estabelece a educação da criança de zero a cinco
anos como sendo um direito de todo cidadão, ainda está longe de tê-la à
disposição de todos desta faixa etária e de qualquer nível socioeconômico.
Fato este que
se deve não apenas às dificuldades do Estado em administrar a verba pública de
forma a atender de maneira equitativa toda a população, mas também ao fato de
que as escolas públicas ainda não se estruturaram pedagogicamente para
favorecer o acesso e a permanência de todos, e, em especial, da população mais
pobre, que sofre a interferência de determinantes extraescolares, gerados pelas
adversidades sociais, características de uma sociedade marcada pela
desigualdade, sem deixar de se levar em conta a má preparação dos educadores
atuantes nesta modalidade de ensino.
Uma formação
docente para a Educação Infantil hoje precisa ser pautada em conhecimentos científicos
básicos para a formação do professor e os conhecimentos necessários para o
trabalho com a criança pequena, além de contemplar um processo de
desenvolvimento e construção do conhecimento do próprio profissional e os seus
valores e saberes culturais produzidos a partir da sua classe social. Além
disso, devem-se considerar dois problemas: a ausência da prática reflexiva nos
cursos de formação dos professores da Educação Infantil e a pouca clareza na
definição do perfil desses profissionais.
As propostas
de formação de professores para a educação infantil devem visar um perfil
profissional diferente daquele sem qualificação e virem cercados de uma
especialização com o objetivo de atender às funções de cuidado e educação no
atendimento à criança de zero a cinco anos. Tal formação deve eliminar o isolamento
profissional, valorizar os saberes profissionais de cada educador, construir
uma parceria com a comunidade e a família e integrar a formação inicial à
continuada, na busca de uma melhor qualidade no trabalho com a criança.
"Ser criança é
acreditar que tudo é possível. É ser inesquecivelmente feliz com muito pouco. É se tornar gigante diante de pequenos gigantescos obstáculos. Ser criança é fazer
amigos antes mesmo de saber o nome deles. É conseguir perdoar
muito mais fácil do que brigar. Ser criança é ter o dia mais feliz da vida, todos os dias. Ser criança é o que a
gente nunca deveria deixar de ser."
Gilberto Reis
Infância
Tem horas que a vida parece música de Bach: uma interminável introdução. A gente vai caminhando de olhos fechados - ou olhando de lado - no rumo do abismo. E não para. A gente está na iminência de fazer uma besteira, e não para. Aí a gente vê que não é mais criança, bate uma saudade danada dos pés de milho, da casca da espiga, de subir em árvore, assustar passarinho, ver carreira de formiga, fazer brinquedo de galhos e pedras, jogar bola na lama, sequestrar as bonecas da irmã, resgatar amigos imaginários, casar com a moça mais bonita do sonho e não querer tomar banho! Lambuzar a cara de doce, brincar no castigo, ler gibi dentro do livro ao invés de estudar... Falar palavrão e ficar repetindo, esquecer papel de bala no chão...
De repente acorda do devaneio, vê que não é mais criança e chega a conclusão de que ser gente grande é um saco! Mas descobre que a criança ainda existe e se a gente deixar ela triste aí é que complica mais!
E não sai da introdução...
[Adhemar - Santo André, 13/10/2008]
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