Na data de 07 de março de 2013 na disciplina de Conteúdos e Metodologias
para a Educação Infantil, assistimos ao filme o contador de histórias.
Filme este que conta a dramática e trágica história de um menino chamado
Roberto, nascido nos anos 1970, em Belo Horizonte, é o caçula de uma família
pobre com muitos filhos. Acreditando que seria o melhor para seu filho, a mãe
de Roberto, o entregou à FEBEM, na esperança que o menino tivesse um futuro
melhor ali. Acreditava que na FEBEM ele teria condição de estudar, e se
tornaria um profissional bem sucedido, mas acabou tornando-se um fugitivo da
instituição e autor de vários crimes. Sofreu com o abandono, a violência
(passou por situações terríveis incluindo estupro) e, consequentemente, a
exclusão social.
De tanto fugir e ser capturado, Roberto passou por inúmeros educadores e
psicólogos, alguns deles não empregavam uma pedagogia que fosse capaz de mudar
a realidade da vida daquela criança e muitas vezes chagaram a classificá-lo
como um “caso perdido” e “irrecuperável”.
O destino colocou em seu caminho uma mulher chamada Marguerite Duvas,
uma pedagoga francesa que estava no Brasil para fazer uma pesquisa e encontrou
na história de vida de Roberto um estímulo. Ela não apenas utilizou o menino
como objeto de pesquisa, como também tomou pra si os cuidados dele, pois
creditava que apensar de ser um menino de rua e um menor delinquente, tinha um
grande potencial.
Roberto conseguiu estudar e tornar-se, anos depois, Pedagogo, com
pós-graduação em literatura infantil e um famoso contador de histórias,
conhecido internacionalmente.
A REALIDADE INFANTIL DENTRO DA FEBEM
Oficialmente, a FEBEM deveria ser um espaço onde ocorreria a reeducação,
ressocialização e reintegração, seria uma associação antipaternalista e
antiprisão (VIOLANTE, 1982). No entanto, filmes como Pixote, A Lei do mais
Fraco e o próprio O contador de Histórias retratam outra realidade, uma instituição
na qual ocorrem todos os tipos de violência, o extermínio de menores e o uso de
drogas são retratados.
Roberto Carlos um menino sozinho para driblar as
adversidades num lugar desconhecido, usa seu melhor instrumento: incrível capacidade de criar situações e imagens para transformar a
realidade e se fazer aceito perante uma sociedade sem ideais concretos.
Ao ser institucionalizado, o menor passa por um processo de despojamento
psíquico e social, sua individualidade é ignorada e ele internaliza os objetos
de recuperação da instituição, mesmo não sendo infrator. Nesse processo, o
menor perde, aos poucos, os documentos de sua identidade interior. Ele perde
sua história, sua aparência física, sua origem e seu ambiente social. (CAMPOS
1984)
Foi exatamente o que ocorreu com Roberto e pior na pré-adolescência, é
obrigado a mudar de instituição, indo conviver com jovens mais velhos, severos
e cheios de vício, um lugar que para ser aceito tinha que aprender palavrões,
falar duro, um local com ausência total de esperança ou possibilidades de
mudança. Roberto Carlos e alguns outros internos logo descobrem o caminho das
ruas, das drogas e
dos pequenos delitos,
cena narrada como se fosse parte de uma partida de futebol. Na busca de
segurança, Roberto tenta associar-se
a um grupo ainda mais
violento.
Aos 13 anos, ainda analfabeto, depois de muitas tentativas de
fuga, separado da
família, ele carrega o estigma de
‘irrecuperável’.
Os internos mantinham uma postura que era imposta pelos monitores, mantinham-se
em fila de cabeça baixa e mãos para traz. Tal exigência era prática comum e
visava à submissão total do interno.
A ordem na instituição era torturar o tempo todo e gerar uma sensação de
tempo perdido, ao invés de prepará-los para o trabalho e para a vida em
sociedade, seu objetivo declarado era condená-los a condição de delinquentes, visto
que atividades escolares ou profissionalizantes não existiam ali.
Como afirma Foucault (2006), o delinquente é submetido a toda uma
tecnologia penal para marcar seu desvio, buscar sua degeneração e
diferenciá-los dos outros pobres.
Ali quanto maior era o crime, maior era o respeito e todos os infratores
ostentavam com orgulho suas infrações, pois desta forma eram respeitados.
Pode-se dizer que estar na FEBEM era como estar preso da mesma forma que
criminosos adultos. O tratamento ali certamente viria a contribuir para a
consolidação de uma identidade delinquente e se encaixava dentro de um conjunto
de estratégias que distancia cada vez mais o jovem das possibilidades de ser
incluído socialmente. Ou, de maneira perversa o inclui através da delinquência,
sendo este um recurso para sair do anonimato.
Mas a sorte de Roberto fora outra, em visita à
instituição, a pedagoga francesa Margherit aproxima-se de Roberto com duas expressões
que jamais lhe foram dirigidas
– ‘com licença’ e ‘por favor’. Este foi o começo de
uma emocionante e bem sucedida história de afeto e dedicação que rendem frutos
até hoje: Roberto Carlos Ramos, formado em
pedagogia e pós-graduado em literatura infantil, voltou à instituição na qual cresceu –
mas como estagiário, para fazer a diferença.
Ele adotou mais
de vinte meninos de
rua, muitos, de início, ‘irrecuperáveis’, como ele foi.
Palavra que define a realidade de crianças que viviam no contexto de
Roberto. A violência os marcava fisicamente e psicologicamente, os fazendo agir
como criminosos, por não terem outras oportunidades de mostrarem que poderiam ser
diferentes.
Felizmente, as algumas crianças são salvas desse mundo cruel, como
Roberto, que teve na figura da pedagoga francesa uma base para seu crescimento
e desenvolvimento como pessoa, alguém de bem. Outras ficam à mercê do destino,
sendo obrigadas a pagarem altos preços por isso.
A
PEDAGOGIA
A pedagogia e a psicologia são muito bem representadas por Marguerite, à
pedagoga francesa, se utilizou de métodos simples e diferente aplicando-as com
carinho. De início, ela tenta, apenas, concluir a sua pesquisa, ao mesmo tempo
em que a comove e a intriga a história de Roberto, a francesa se envolve ainda
mais. Surpreende-se quando Roberto deixa claro que confia nela e que a tem
muito mais como uma amiga, mas também, como sua “mãe”.
Ela o ensina a escrever ler e também a falar francês, pois acreditava
que ele deveria ser enxergado de um modo diferente na sociedade e não como um
menino de rua, sem futuro.
O filme é fundamentado num drama real, que tem por objetivo sensibilizar
e alertar a todos quanto à realidade não só do país, principalmente pedagogos e
psicólogos na sua formação. Hoje, muitas crianças ainda esperam por uma
transformação em suas vidas ou a vinda de pessoas que contribuam para o seu
crescimento e as tirem dessa triste realidade que atinge grande parte da
sociedade brasileira.
Ao assistir o filme O Contador de histórias, me vi refletindo
sobre o que é ser pedagoga e qual a nossa função neste mundo tão turbulento. Fez-me
ter mais vontade e garra de prosseguir e ir além na busca de novos horizontes e
fronteiras, que possam fazer da Educação a arma para lutar por um mundo tão
cheio de guerras, de injustiças e desigualdades.
Fez-me querer mais do que ensinar por ensinar e sim atribuir
sentido, dar força a opinião de cada futuro promissor que existem perdidos por
entre as Casas tutelares, as ruas, as periferias de um país tão rico e tão
pobre ao mesmo tempo.
O Contador de Histórias
relata a história de uma pedagoga francesa que acreditou numa criança que
ninguém mais acreditava e possibilitou a ela oportunidades, como resultado esta
tornou- se um renomado pedagogo e hoje é considerado um dos dez melhores
contadores de história do Mundo e é assim que vejo a classe dos futuros
profissionais lutando para que cada sujeito sem perspectiva crie uma esperança,
confie que a Educação ainda é a melhor solução para se sair do anonimato.
Ao ver aquelas cenas pensei, pedagogia vai além do ensinar,
como pedagogas temos que acreditar e amar o que nós fazemos. O nosso papel é
fundamental na construção do sujeito, nós indicamos o caminho que ele deve
andar, e para isso precisamos acreditar que a educação existe. Por mais que o
sistema de ensino não contribua para que aconteça uma educação de qualidade,
temos que fazer a nossa parte, com amor, carinho, paciência, sabedoria e
respeito ao próximo. Só assim formaremos crianças felizes, capazes, críticas e
com vontade vencer todos os obstáculos que a vida traça em sua caminhada.
Gostaria de ver nos dicionários, uma nova definição para
pedagogia: ACREDITAR. Se nós pedagogos não acreditamos na criança e
nas suas potencialidades, a educação perde todo o sentido.
Afinal, é cômodo culparmos o sistema e jogarmos para o governo a
responsabilidade que cabe a nós educadores. É mais triste ainda vermos uma leva
de profissionais que não se importam com a construção da personalidade e
cidadania dos seus educandos e chegam a culpar as próprias crianças enquanto
não refletem suas práticas e didáticas. Enquanto não nos conscientizarmos que a
responsabilidade é do educador, não são novas políticas públicas que vão
resolver nosso problema o grande desafio das
políticas públicas é aplicar regras comuns para todos, sem que se perca a
consideração da individualidade de cada ser.
A TEORIA DE HENRY WALLON
O conceito de afetividade de Wallon é colocado em
prática no filme, fica claro que iniciativas educacionais
com afetividade trazem resultados surpreendentes, respostas positivas e
harmonizam o convívio social. Por isso ao lidar com algum tipo de
problema rotulado como irreversível, lembre-se que o AMOR é a fórmula
indispensável para alcançar o “impossível” .
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